quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ENTREVISTA COM JURACI SIQUEIRA


ANTONIO JURACI SIQUEIRA, UM POETA ADMIRADO POR TODOS OS ARTISTAS E NÃO ARTISTAS QUE O CONHECEM




eu- Juraci, no Afuá já produzias os teus livros ou isso foi uma coisa que começou muito depois, já em Belém?

juraci- Vivi até os 16 anos na localidade de Cajary, município de Afuá, mas lá não produzi nada, apenas tive contato com a literatura, principalmente com a literatura de cordel. Escrevi alguma coisa em Macapá, onde morei de 1965 a 1976 quando vim morar em Belém onde, a partir de 1978, com meu ingresso no curso de Filosofia na UFPa.,, comecei a escrever e publicar nos painéis do Campus Universitário.

eu- Por que a tua retirada pra Belém? Como se deu e quando?

juraci- Vim a Belém em 1976 para tratamento de saúde de uma filha. Como o tratamento era prolongado, resolvi vender uma casa que tinha em Macapá e me ficar definitivamente em Belém.

eu- Por que o cordel?

juraci- Foi a literatura que mas tive contado quando morava no Cajary. Além do mais, meu avô José Abdon contava muitas histórias versificadas e cantadas, oriundas dessa literatura. Quando comecei a escrever não atinava o porquê da minha tendência para a rima e a metrificação. Quando a “ficha” caiu, é que passei a me interessar ainda mais por esse gênero da poesia popular, estudando e cultuando os grandes mestres do passaado.

eu- Quais os autores que te influenciaram ou te influenciam literariamente?


juraci-
As influências foram e continuam sendo uma constante em minha obra. De cordelistas como Leandro Gomes de Barros a poetas como Jorge de Lima, Thiago de Melo...

eu- Tu tens uma posição bem regional nos trabalhos e mesmo no teu comportamento e forma de se vestir, então me diz: te consideras um autor regionalista? Como tu vês essa questão do regionalismo dentro da arte?

juraci- Geralmente o artista reproduz em suas obras sua própria vivência. E eu, por ser oriundo do interior do Marajó, minha vivência é interiorana, ribeirinha, logo, é natural que em meus poemas, contos, crônicas, etc., eu expresse a minha visão cabocla da realidade. Vejo o regionalismo na arte como forma de expressar vivências. Em assim não sendo, caímos na “regionalice”, isto é, no falso regionalismo e apelações, tipo rimar açaí com tucupi ou Pará com tacacá...

eu- As tuas criticas são bem diretas na poesia. Consideras que é importante pro artista ter um engajamento político?

juraci- Importante mas não necessário. A arte engajada precisa ser consciente e muito bem trabalhada para não cair nas “mesmices” que abundam por aí. Até porque uma boa causa não salva um mau artista.

eu- Fala um pouco de datas: em que ano mais ou menos começastes a escrever?

juraci- O primeiro trabalho datado que conservei comigo, é uma letra de música com a qual concorri no III Festival Amapaense da Canção, em 1875. Trabalhos publicados em jornal datam de fevereiro de 1980 e meu primeiro livro, “Verde Canto”, foi publicado em 1981.

eu- Chegaste a ser perseguido e censurado pela ditadura militar? Conta ai um pouco de como se dava o trabalho de um poeta naquela época conturbada e cheia de atropelos.

juraci- Não. Quando comecei a escrever e publicar, a fase mais feroz da “dita dura”, e põe dura nisso, já havia passado. Peguei a fase mais branda, a da “abertura” do General João Figueiredo. Cheguei a escrever sátiras no Jornaleco de A Província do Pará e no PQP- um jornal Pra Quem Pode, do jornalista Raymundo Mário Sobral sem ser incomodado.

eu- Por que os livros artesanais? Ainda os produz?

juraci- Por ser essa a forma mais fácil, barata e autônoma que encontrei para divulgar e comercializar meu trabalho. Mesmo já dispondo de editora, vou continuar a produzi-los por ser, também, uma forma de preservar minha produção.

eu- Hoje estás na internet em todos os possíveis canais, como vês o papel da internet na divulgação da arte?

juraci- A Internet, como a televisão, o rádio ou qualquer outro meio de comunicação são instrumentos a serviço do homem. O usuário é que fará o bom ou o mau uso deles. Como uma faca que se usa para cortar legumes ou para matar alguém. A Internet, se bem usada, é um poderoso instrumento para a produção e divulgação da arte.

eu- Tu te consideras um artista marginal?

juraci- Faço minhas as palavras do poeta Clei de Souza: - “Marginal é o caralho!”

eu- Para finalizar: Podes me dizer a data de teu nascimento?

juraci- Claro que posso. Até porque nem aparento a idade que tenho: no próximo dia 28 de outubro estarei completando 62 anos de idade! E isso num corpo e 40 com cabeça de 30. (Risos)

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